sábado, 1 de agosto de 2009

500 anos de Calvino


JOÃO CALVINO

Este ano as igrejas reformadas comemoram os 500 anos de Calvino, aqui estarei postando algo sobre ele e sua teologia como forma de valorização da pessoa do reformador e como gratidão a Deus por ter usado este homem para a obra de reforma da igreja.
Soli Deo Glória!




Calvino nasceu em Noyon, em Picardy, ao norte da França, em 1509. Seu pai era um respeitado cidadão e conseguiu benefícios eclesiásticos para a educação do filho. Calvino estudou na Universidade de Paris, onde teve contatos com o humanista Guillaume Cop, e através do seu primo Pierre Olivetan conheceu as idéias protestantes. Para fazer a vontade de seu pai foi estudar Direito na Universidade de Orleans, transferiu-se depois para a Universidade de Bourges em 1529.
Ao se converter adotando as idéias da Reforma, abandonou imediatamente os benefícios eclesiásticos que recebia. Calvino foi forçado a abandonar a França em 1534 por ter colaborado com Nicolas Cop, reitor da Universidade de Paris, na elaboração de um documento no qual continha idéias humanistas e reformadoras.
Em Basiléia terminou sua grande obra “As institutas da religião cristã” em 1536 com apenas 26 anos de idade. Depois de muitas edições essa obra magnífica chegou à sua forma e edição final em 1559.
Guilherme Farel (1489 – 1565) havia sido enviado a Genebra pelo cantão de Berna para ali estabelecer a Reforma. Era um excelente pregador, mas humilde o suficiente para reconhecer sua limitação administrativa. Ao saber que Calvino estava pernoitando em Genebra não teve dúvida do que fazer. Foi até ele e lhe pediu ajuda. Calvino não estava interessado em se envolver diretamente na obra da Reforma, desejava apenas contribuir com seus escritos e para tanto necessitava de tranqüilidade para estudar. Ele se recusou, porém Farel lhe disse que Deus amaldiçoaria a ele e a seus estudos se em tão grave emergência se recusasse a ajudar. Isso impressionou tanto Calvino que ele permaneceu em Genebra e foi ordenado ministro de ensino no mesmo ano de 1536.
Dentre as mediadas reformadoras que Calvino e Farel tomaram se recusaram a dar a Ceia do Senhor àqueles que se encontravam em pecados graves e escandalosos, porém muitos desses eram pessoas poderosas e influentes na cidade, tal atitude custou-lhes o exílio. Calvino então foi pastorear uma igreja de refugiados franceses em Estraburgo. Ao contrário de Genebra, que não remunerava Calvino pelos seus serviços, e ele mesmo nada cobrava, a igreja de Estraburgo cuidava muito bem de seu pastor. Calvino aliás era um homem necessitado de muitos cuidados, pois era extremamente enfermo, tinha gastrite, hemorróidas, dores de cabeça constantes, e outras enfermidades. Em Estraburgo Calvino se casou com uma viúva de um pastor anabatista, Idelette, com quem teve um filho, que veio a falecer ainda criança em 1549. Idelette também veio a falecer.
Em 1541 Calvino foi convidado a retornar a Genebra. Ele estava satisfeito em Estraburgo e não pretendia voltar a Genebra, foi convencido a retornar em caráter temporário até pôr as coisas em ordem. Porém, ele acabou ficando permanentemente em Genebra.
Agora Calvino estabelece as Ordenanças Eclesiásticas, estabelecendo quatro classes de oficiais na igreja. Essas Ordenanças estabeleciam uma associação de pastores para dirigir a disciplina, um grupo de mestres para ensinar a doutrina, um grupo de diáconos para administrar a obra de caridade, e sobre eles, o consistório, composto de seis ministros e doze anciãos, para supervisionar a teologia e a moral da comunidade, com a faculdade de punir, quando necessário, com a excomunhão os membros renitentes.
Lamentavelmente em 1546, 28 pessoas foram executadas e 76 exiladas. E Servetus, por ter ensinado contra a doutrina da Trindade foi queimado vivo em 1553. Legalmente Calvino não foi o responsável pela morte de Servetus, foi o conselho dos Quatros, que governavam a cidade. É bom salientar que a desobediência à igreja naquela época era também desobediência ao estado, portanto, digna de morte.
João Calvino morreu em 1564, Teoldoro Beza (1519 – 1605), reitor da academia de Genebra, tomou a liderança do trabalho em Genebra.



A teologia de Calvino

Assim como nos reformadores anteriores, faremos menção apenas às principais doutrinas calvinistas.


O Deus Trino

Calvino foi o único dos reformadores que dedicou atenção à doutrina da Trindade. Ele chegou a conversar com antitrinitários genuínos, como Servetus, Gentile e Gribaldi.
Calvino foi impecavelmente ortodoxo em suas formulações sobre a doutrina da Trindade: “...quando professamos crer em um só e único Deus, pelo termo Deus entende-se uma essência única e simples, em que compreendem três pessoas ou hipóstases...” (Inst., I, XII, 20). Calvino na verdade não gostava de termos não-bíblicos como ousia, hipóstases, persona, Trinitas; porém reconheceu a utilidade deles para tornar a doutrina mais clara. Calvino jamais deturpou as Escrituras para defender qualquer doutrina, com a doutrina da Trindade não foi diferente. Acertadamente considerava fracas e espúrias provas como dizer que o plural de Deus em Gênesis 1.1, (Elohim), a tríplice manifestação de louvor dos serafins em Is. 6.3, ou a afirmação de Jesus, “eu e o pai somos um” (Jo 10.30) para afirmar a Trindade.


A providência

Em sua doutrina da providência Calvino atacou dois equívocos populares da época, o fatalismo e o deísmo. O fatalismo é uma doutrina estóico que diz haver na natureza leis que tornará inevitável tudo quanto acontece. O deísmo por sua vez, afirma que Deus criou o mundo e abandonou-o, não se relaciona com ele. Contra o fatalismo Calvino ensinou que as coisas acontecem não por causa de leis naturais, mas por determinação divina. “Que, por Sua sabedoria, decretou desde a extrema eternidade [o] que haveria de fazer e, agora, por Seu poder, executa [o] que decretou” (Inst., I.XVI, 8). Contra o deísmo ele declara que a providência “às mãos, não menos que aos olhos, diz [Lhe ela] respeito” (Inst., I, XVI, 4).
Se Deus determinou tudo o que acontece, surge a questão se Ele não se torna cúmplice das obras más dos ímpios. Calvino afirmava que não, fazendo uma distinção entre vontade e preceito de Deus. “... enquanto por instrumentalidade dos ímpios Deus leva a cabo [o] que decretou em Seu juízo absconso, não são [eles] excusáveis, como se Lhe estejam a obedecer ao preceito, que deliberadamente, violam em sua [desregrada] cupidez” (Inst. , I, XVII, 4).




A oração

A esse tema Calvino dedica o capítulo mais longo das Institutas. Ele definiu oração como “o principal exercício da fé, mediante a qual recebemos diariamente os benefícios de Deus”.

“Os fiéis não oram para contar a Deus o que ele não sabe, para pressioná-lo em suas tarefas ou apressa-lo quando demora, mas sim a fim de alertar a si mesmos para buscá-lo, para exercitar a fé meditando em suas promessas, livrando-se de suas cargas ao se elevarem a seu íntimo. [...] Mantenha esses dois pontos: nossas orações são previstas por ele em sua liberdade; contudo, o que pedimos, conseguimos pela oração.” (Com. sobre Mt 6.8).

Calvino apresentou quatro regras de oração. Primeiro: devemos nos aproximar de Deus reverentemente. Devemos evitar a leviandade de falar com Deus como quem fala com um amigo celeste, “o homem lá de cima”. A segunda regra é que oremos com uma percepção sincera de necessidade, e penitentemente.

“Deus não estabeleceu a oração
Para arrogantemente nos envaidecer perante ele
Ou valorizar grandemente nossas próprias coisas.
A oração serve para confessarmos, lamentarmos
Nosso trágico estado;
Como as crianças lançam seus problemas
Sobre seus pais,
Assim é conosco diante de Deus.
Essa percepção do pecado estimula-nos, incita-nos,
Desperta-nos a orar.”

A terceira regra segue a segunda: devemos abandonar toda a confiança em nós mesmos e humildemente suplicar perdão.
A quarta regra é que oremos com esperança confiante: “... assim prostrados e subjugados de verdadeira humildade, sejamos, não obstante, animados a orar, com segura esperança de alcançar resposta” (Inst. , III, XX, 11).


A predestinação

A teologia de Calvino é lembrada principalmente por conta da predestinação, fato curioso, haja vista que ele mesmo dá pouca atenção a essa doutrina em suas Institutas. A doutrina da predestinação de Calvino é basicamente o que Lutero, Zwínglio e Agostinho pregaram.
Resumiremos a doutrina da predestinação de Calvino em três palavras: absoluta, particular e dupla. Absoluta porque não está condicionada a nenhuma contingência finita, mas baseia-se somente na vontade imutável de Deus. Desse modo ele rejeita qualquer noção de predestinação baseada na presciência divina: “O conhecimento prévio de Deus não pode ser o motivo de nossa eleição, porque, quando Deus [olha para o futuro e] observa toda a humanidade, ele encontra a todos, do primeiro ao último, debaixo da mesma maldição. Assim, vemos quão tolamente os frívolos balbuciam quando atribuem ao puro e simples conhecimento prévio o que deve estar fundamentado na boa vontade de Deus”.
Em segundo lugar, a predestinação é particular, ou seja, pertence a indivíduos e não a grupos de pessoas. Isso implica que Cristo não morreu por todos indiscriminadamente, mas apenas pelos eleitos.
E finalmente a predestinação é dupla. Deus, para o louvor da sua misericórdia, ordenou alguns indivíduos para a vida eterna, e para louvor da sua justiça, enviou outros para a condenação eterna.


A Ceia do Senhor

A doutrina da Ceia do Senhor encontrou em Calvino um equilíbrio entre os extremos de Lutero e Zwínglio. Ele concordava com Zwínglio ao negar a presença corporal de Cristo no sacramento, ma insistia numa presença real, ainda que espiritual. Concordava com Lutero então, que a Ceia não era um mero símbolo vazio – a verdade da coisa significada está certamente ali – mas um meio de “real participação” em Cristo (Inst. , IV, XVII, 10-11).
Calvino afirma que a Ceia é primeiramente a expressão de uma dádiva da graça de Deus ao homem, e só secundariamente, uma refeição comemorativa e um ato de profissão. A Ceia portanto, fortalece a fé do comungante.


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